domingo, 10 de março de 2013

A minha avó

A minha avó, é a minha única avó. Não conheci nenhum dos outros avós. Os avós paternos morreram cedo,   sem sequer os poder conhecer. O avô materno, marido da minha avó, cedo morreu era a minha mãe pequenina. Infelizmente só me resta esta minha avó. Adorava ter tido a oportunidade de os conhecer a todos, de os ter todos reunidos à mesa, de ouvir as suas histórias, deles fazerem parte da minha vida e eu da deles, mas não tive. Em vez disso tenho uma avó, uma grande avó que vale pelos quatro e fui ganhando outros ao longo do tempo. Fui e sou uma grande sortuda! A minha avó cuidou de mim desde que nasci, viu-me crescer. Partilhámos momentos, segredos e sonhos só nossos. Esteve sempre presente nestes meus (quase) vinte anos. Preparou-me lanches deliciosos, guloseimas, jantares e almoços. Aturou-me birras, ensinou-me os números, as letras e a rezar. Foi-me levar e buscar à escola vezes sem conta. Brincou comigo, levou-me a jardins, empurrou-me de baloiço, passámos férias juntas... Fazia xarope de cenoura assim que o primeiro sinal de estar doente aparecia. Educou-me e transmitiu-me valores. Hoje continua presente, e cá continuamos juntas como sempre tivemos, mas a velhice chegou. A velhice é doce, mas também é dura e dói. Há quatro anos, pensei que iria perder a minha avó para sempre. Foi aqui que senti o medo, o medo hostil de ver a minha avó partir. O avc de que foi vítima, deixou mazelas físicas mas felizmente só passou de um susto para a longitude que a situação poderia ter atingido. E a minha querida avózinha continuou aqui ao meu lado, forte e resistente aos inúmeros problemas de saúde que tem tido. Lembro-me de tudo, do hospital; de a ver no hospital; de não ter conseguido evitar chorar no primeiro dia que a fui visitar, assim que ela exclamou: "Olha o meu amor!"... Mas melhores dias vieram depois disso. 
Esta semana foi internada outra vez*, com uma infecção respiratória. Não é grave, mas com a  idade avançada, com todas as complicações do seu organismo e com o coração mais fraco, o internamento é obrigatório. Eu sei que o hospital é o sítio mais indicado e sei que é lá que ela tem que estar, enquanto a situação não estiver controlada,  mas parte-me o coração vê-la naquele sítio outra vez. Os tubos; a cama; o cheiro; os outros doentes que por coincidência infeliz um deles é a avó de uma amiga minha que está com o mesmo problema, deixam-me triste, impotente... E tal como à quatro anos foi ela que me segurou as lágrimas no primeiro dia que entrei ali de novo. A velhice da minha avó magoa-me muito. Se pudesse trocaria de lugar com ela, dar-lhe-ia toda a minha saúde, mas não posso... Os papéis trocaram-se. Chegou a minha vez de olhar pela minha avó. Apesar de eu, contrariamente ao que ela pensa, continuar a  precisar muito dela e é se algum dia deixarei de precisar. Só tenho pena de não lhe poder dar o xarope de cenoura, o xarope que me punha boa num instante e que me fazia puxar-lhe a mão para irmos de novo passear. Hoje, quando terminou a visita apertei-lhe a mão com força e disse-lhe "Amo-te muito avó, até amanhã", quem sabe amanhã não poderemos ir passear outra vez.




*Daí a minha ausência no blogue.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei especialmente da última frase do teu texto. Há que ter sempre esperança e não nos deixarmos entristecer demasiado pois certamente a ultima coisa que a tua avó quer é ver-te infeliz.

A tua avó parece ser uma mulher com M grande e certamente não se deixará vencer tão facilmente 

D. à conversa disse...

Que texto bonito amiga :).
Devias mostrá-lo à tua avó, concerteza que irá adorar lê-lo ^^.
Sei o que é o medo de perder um avô, sei o que sentes e sei o que é adorar ter aquele "segundo" pai ao nosso lado.
Nas tuas palavras revejo-me e sei, que isto é só uma fase menos boa.
Força amiga, força avozinha da M. :).

Vai tudo correr bem ! =)